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Nossa História

Nossa História

PEQUENA HISTÓRIA DO MOSTEIRO DE ITAICI

Texto de Eliana Belo feito em 1985, com relato oral do Pe. Armando Cardoso, SJ

O Mosteiro de Itaici é um conjunto formado por uma grande igreja, oito capelas, sete salas para palestras e reuniões, biblioteca, refeitórios, copa, cozinha, frigorífico e quartos para acomodar aproximadamente 500 pessoas, todos dispostos harmoniosamente entre jardins cuidados com esmero. Está localizada no bairro de Itaici, em Indaiatuba/SP. O local é conhecido, nacionalmente, por ter recebido a sede do encontro anual da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; mas para muitos é conhecido mesmo apenas como um centro de espiritualidade onde há cursos, encontros e retiros.

Locais:
01 Igreja - Nossa Senhora do Bom Conselho

09 Capelas
- Anchieta;
- Espírito Santo;
- Sagrada Família;
- Ressurreição;
- Santíssima Trindade;
- Santo Afonso Rodriguez;
- Santo Inácio;
- São Francisco Xavier;
- Divino Mestre.

07 Salas para palestras ou reuniões de grupos
- Nóbrega;
- Pe. Arrupe;
- Pe. Iglesias;
- Kostka;
- Pedro Fabro;
- Santos Mártires das Missões;
- Pedro Claver.

11 Salas de Atendimento Personalizado
Pe. Malagrida, Ir. Gárate, Pe. Hurtado, Ir. Vicente Cañas, Dom Luciano, Pe. Cardoso, Pe. Reus, Santos Mártires das Missões, Francisco de Borja, 40 Mártires e Ir. Antero.

01 Auditório
Auditório Rainha dos Apóstolos com capacidade para 645 pessoas, (inaugurado em 1989). Ao seu redor, existem outras salas menores dentro do auditório, onde também podem ser usadas se solicitadas.

01 Teatro
Teatro Antônio Vieira, no prédio central, com acomodação para 200 pessoas;

Naquela primavera de 1985 tive o privilégio de entrar nesse complexo tranquilo e acolhedor e conhecer cada compartimento em companhia do Irmão Kimura e do Padre Cardoso, que atenciosamente discorreu sobre a história do local, discurso que tento escrever abaixo, da forma mais fiel possível, muito embora saiba que essas linhas não transmitirão as emoções dispostas em sua fala e principalmente em seus olhos.

“O nome Kostka refere-se ao patrono da Casa: Santo Estanislau Kostka que nasceu em 1550 na Polônia e faleceu muito jovem, com apenas 18 anos, em Roma. De família rica e influente, o noviço jesuíta, muito devoto de Nossa Senhora, foi canonizado pela Igreja e é o padroeiro dos jovens seminaristas por representar o rompimento com os privilégios garantidos pela nobreza e a busca de uma sociedade fraterna e justa, nos moldes do cristianismo”.

“Já a palavra Itaici é de origem tupi e pode ser decomposto de duas formas: Itá-y-cy ou Itá-ycy. A primeira significaria mãe ou fonte (CY) do rio (Y) da pedra (ITÁ). A segunda se interpretaria fileira (YCY) de pedra (ITÁ). Não se sabe desde quanto o local era habitado pelos índios, mas pela geografia pode-se concluir que há muito tempo. Isso porque o local está em um vale formado pelo Rio Jundiaí que nasce na Serra do Japi e deságua no Rio Tietê. Sendo os tupis um grupo que subsistia principalmente da caça, pesca e agricultura rudimentar, o vale representaria um local atrativo e adequado para sua subsistência”.

“No tempo do Brasil Império o local era uma enorme propriedade rural denominada Fazenda Taipas pertencente a João Tibiriçá, presidente da província de São Paulo. Em 1860 as terras e a casa-grande da fazenda foram adquiridas pelo Internato São Luiz de Itu (que funcionava no atual prédio do exército) para ser um sanatório de doentes e ao mesmo tempo local de retiro para os jovens seminaristas que, por virem do Brasil inteiro ena impossibilidade de extensas viagens, ficavam na sede da fazenda durante as férias. Era um período tranquilo, o Rio Jundiaí era muito limpo e com muitos peixes, tomava-se banho lá. Na mata dos arredores apareciam jaguatiricas e onças. Dos primeiros habitantes da terra, esses primeiros jesuítas que ficavam no local encontraram pedras lascadas que serviam de machado aos índios”.

“Em 1917 o Internato São Luiz de Itu mudou-se para São Paulo, desta vez como externato, e a sede da Fazenda Taipas, até hoje preservada, passou a funcionar apenas como local de encontros religiosos periódicos, sendo zelada por administradores contratados até 1950, quando foi doada para o Seminário Jesuíta de Nova Friburgo (RJ)”.

“A partir deste ano o Irmão Larrañaga (1) com aproximadamente 100 pessoas (irmãos, padres e jovens noviços) começou a liderar, como mestre-de-obras, a construção do atual conglomerado que forma o Mosteiro de Itaici, chamado carinhosamente na época de “Casa Nova”: igreja, capelas, três alas de dormitórios com mais de 100 metros cada uma, refeitório e salas de reunião. Durante a construção, todos moravam na agora “antiga” sede da fazendo enquanto edificavam – bem próximo a ela - o projeto cuja inspiração arquitetônica veio da Universidade Rural do Rio de Janeiro e demorou 12 anos para ser terminado.

"O material usado na construção era beneficiado no próprio local, basicamente de forma artesanal. Os irmãos, seminaristas e padres da casa tinham vários e diferentes ofícios, trabalhavam em diferentes funções na olaria, oficina de ferragens e carpintaria. Muitos ladrilhos, azulejos e tijolos foram feitos no próprio local. O sustento advinha da própria fazenda, de uma agricultura e pecuária de subsistência, prática ainda presente nos dias atuais quando ainda se cria bois, porcos e galinhas e cultiva-se um pequeno pomar”.

“Foi a partir dessa época que muitos seminaristas estudaram na Vila em regime de internato, em um curso que era composto pelas seguintes fases: (1) após o secundário, fazia-se o noviciado durante 2 anos; (2) em seguida era o curso de Letras, que durava 2 anos; (3) a faculdade de Filosofia por 3 anos e o (4) curso de Magistério também por 3 anos, para só então (4) estudar Teologia por 4 anos. As disciplinas eram variadas: Literatura, Grego, Latim, Hebraico, Moral, Dogma, Direito Canônico. Para perder a timidez e romper a disciplina composta por silêncio, estudo e oração, algumas vezes os jovens seminaristas eram incentivados a representar o conteúdo estudado através da dramatização. Em algumas ocasiões as peças de teatro eram apresentadas para a comunidade de Indaiatuba, à benfeitores e demais convidados, principalmente no Natal. Nesta época em que muitos noviços tinham a Casa Nova como seu lar, parte da produção de leite, carne, legumes e frutas eram vendidos na região para reverter benefícios para a sobrevivência, manutenção e ampliação da construção trabalhosamente erguida em privilegiado espaço entre o total de 40 alqueires da propriedade”.

“No ano de 1954 comemorou-se o quarto centenário da fundação da Cidade de São Paulo. Por essa e nesta ocasião os padres jesuítas solicitaram verbas para o Governo do Estado de São Paulo com a finalidade e investir na construção da nova casa. O argumento foi justificadamente forte: a própria aniversariante havia surgido em torno do primeiro colégio do Padre José de Anchieta e o próprio Palácio do Governo erados jesuítas que o deixaram na época em que foram expulsos pelo Marquês de Pombal (2). Com o auxílio governamental, primeiramente cedido por Lucas Nogueira Garcez e seus sucessores Jânio Quadros (1955-1959) e Carlos A. A. Carvalho Pinto (1959-1964) e com a colaboração da comunidade, que fazia doações e dava esmolas a Casa Nova foi terminada em estilo colonial”.

“A partir de 1972, com a Crise das Vocações os noviços jesuítas passaram a fazer o seminário em um local menor em Campinas e o Mosteiro de Itaici foi transformado em uma Casa de Retiros. Os padres da época prepararam-se para as novas funções e alguns foram fazer cursos especiais de orientação de retiro em Roma, Paris e Bruxelas. Resumidamente, o processo de retiro é composto pelas seguintes atividades: leitura, reflexão, oração. Também há conferências, meditações, estudos de textos bíblicos e outras atividades, conforme os grupos de retirantes. Esses grupos também são variados: desde reuniões maiores como a dos Bispos do Brasil, reuniões de jovens, de casais, de família e mesmo reuniões ecumênicas entre católicos, evangélicos e outros crentes. Grupos de outros países também já foram recebidos: Chile, Bolívia e Uruguai entre outros. A composição formada pelos vários quartos que eram dos seminaristas, pequenos, simples, apenas com uma cama e um pequeno crucifixo, auxiliou a nova função da casa: retirantes possuem o conforto, acolhimento e privacidade adequados”.

“As reuniões de bispos passaram a ser constantes desde 1968, por regiões ou por dioceses. Mas uma vez por ano reúnem-se todos os bispos do Brasil: é a CNBB, que entre bispos, padres, assistentes e leigos chegam a somar 300 pessoas. Essa reunião nacional é sempre previamente planejada. Uma pauta é elaborada e várias discussões são feitas. Assuntos específicos das dioceses também podem estar na pauta, como por exemplo, na ocasião em que o Bispo do Araguaia propôs a discussão sobre a questão da terra. Por algumas vezes e por determinados assuntos alguns especialistas como cientistas sociais, psicólogos, sociólogos e até políticos são convidados para o grupo de discussão. A sistemática é quase sempre a mesma: após a discussão em grupos, todos vão para o plenário para exposição geral das conclusões. Dali, após votação, sai resoluções objetivas e nítidas preferencialmente com unanimidade. São sempre questões sociais de relevância para o momento histórico. Discutem também sobre a Campanha da Fraternidade e muitas vezes o produto final de algumas discussões é enviado para os governos”.

“É através das pensões dos retirantes que o Mosteiro de Itaici passou a se manter. Na década de 70 parte do patrimônio foi vendido e a renda também é revertida para a manutenção da casa que recebe retirantes por vários dias, por fins de semana, para dias de orações. A Casa conta com mais de 60 funcionários com funções diversas, principalmente limpeza, manutenção, copa e cozinha e administrativo. Nos dias atuais moram em Itaici 8 padres e 2 irmãos, que dividem entre si várias tarefas, de acordo com as aptidões de cada um. Cuidado especial recebe o jardim, disposto estrategicamente entre os prédios: o volume e a beleza das plantas destacam ainda mais o silêncio do local. Apenas pássaros e borboletas aparecem, às vezes mas insistentemente, rompendo o isolamento do local que pode ser contemplado através de caminhos que convidam à meditação, a paz e a busca dos verdadeiros valores do cristianismo”.

Texto: Eliana Belo
Fotos: Arquivo Mosteiro de Itaici

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